quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Portões do Paraíso


Olhe!
O mundo caiu!
Veja!
Tudo acabou!
O que vou fazer?!
Estou sem um livro para ler
Aqueles que a muito já se foi
Hoje sinto falta de até um simples “oi”
Sonhos acabados
Luzes e desejos dizimados
O motivo para viver morreu
Fulano é esse ladrão que roubou meu singelo eu
Sem dó e piedade
Ou até mesmo sem perceber
Fulano é esse ladrão que já morreu
Já morrestes pobre diabo, seu nome fostes Bartolomeu
E o que farão!?
Todos os parentes deste aldeão?
Pobre homem tivera mulher e filho
Mulher estuprada e filho morto por um assassino
Não me surpreende o fato dele ter se tornado um louco varrido
Após ter visto o filho gritar desvanecido.
Depois de ter morrido, o problema de Bartô foi resolvido
Não terá de chorar no seio de um mundo maldito
E sim dançar e brincar com sua mulher e filho já falecidos
Em um dia ensolarado dentro do Paraíso.
Olhe!
O céu está a cair!
Veja!
As paredes foram ao chão!
Tudo acabou!
Com as paredes ao chão
A terra sujou o pão da minha mão
O que vou comer?
Não há mais nada a se fazer
O que vamos comer?
Tem corpos estirados na rua
Vamos cozinhar para nos alimentar
Humanos? É isso que vamos comer?
Sim, e que tal um peito asiático banhado ao molho rosê?
Hum, vamos pegar!
Ah! Essa é só mais uma louca criação
De um mundo caído ao chão
Cheio de dor e maldição
Não se deixe cair nessa ilusão
Pena que em nem todos fogem dessa guerra
E que em Casas de mãe Joanas elas correm com toda pressa
Pensando em ganhar uma vida de glória
A vida dura desaba sobre doce Victória
Que Madame Joana acolhe como uma linda sobrinha
Para servir sem reclamar os “titios” dessa triste sina
Pobre menina, só queria ter uma vida vivida
Não ter quatorze anos e pelos seus pais ser vendida
Agora com seus vinte-e-poucos é uma mulher acabada
Uma bela e sem valor, mulher glorificada
Uma beleza que por muitas é invejada
Mas que mulher é essa que de uma vida só queria glória
Ganha de homens inescrupulosos dor e sangue
Minha pobre Victória
De lábios rubros como a sua dor latente
Escarlate é seu fim entre lágrimas inocentes
Com uma russa... é isso! Uma roleta russa
Vê sua sorte que por fim funciona, e vê que coragem ela usa
Após voltar de queixo erguido a mais um dia de tentativa falhada
Pobre Victória sua bela tez de lágrimas está marcada
Desse Cabaret ela está a cantar e dançar
Victória não teme o fim desta noite que está a chegar
Só almeja em seu quarto estar para finalmente descansar
Pegar a sua arma e a sua triste sorte testar
Para finalmente com esse tormento terminar
Mas está cansada de tanto tentar
Será que sua sorte mudará?
O início da tentativa começar a girar
Com uma 38 levada a boca, o gatilho ela quer puxar
... um minuto de silêncio está a agonizar
... dois minutos e lágrimas estão a derramar...
PAAAAAUUUUU!
A sorte de pobre Victória acabou de mudar.
Pois Madame Joana cansada de vê-la chorar
Aplica-lhe o projétil para seu sofrimento enfim, acabar
Agora no seu desejado Céu
Ela vai cantar e dançar com os anjos, seus eternos amigos
Rente aos portões do Paraíso.

Por: Medye Platinun